quarta-feira, 8 de julho de 2009

Pátria madrasta vil

Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência... Exagero de escassez... Contraditórios??

Então aí está! O novo nome do nosso país! Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL..

Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade.
O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada - e friamente sistematizada - de contradições.
Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe gentil.', mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe.

Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil está mais para madrasta vil.

A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira'. Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica.

E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome.
Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa. A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade. Uma segue a outra... Sem nenhuma contradição!
É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem!
A mudança que nada muda é só mais uma contradição. Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar.
E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão.
Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura. As classes média e alta - tão confortavelmente situadas na pirâmide social - terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)... Mas estão elas preparadas para isso?
Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil.

Afinal, de que serve um governo que não administra? De que serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona?

Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo.
Sem egoísmo. Cada um por todos...
Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas. Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído?
Como gente... Ou como bicho?

Clarice Zeitel
-----------------------

notícia e imagem

2 comentários:

AL disse...

Brasil, que retrato..

É, nós, cá de fora, vamos sabendo desse "excesso de falta", dessa "abundância de inexistência" longa de séculos.. Mostram-no-lo os filmes, as telenovelas, as canções.. mas saber, mesmo, acredito que só quem esteja lá, viva a vida-madrasta todos os dias.
Sabemos dos meninos de rua e das favelas. Das fazendas imensas e dos jactos particulares, muitos. Dos condomínios tão fechados como prisões de luxo.. s
Sabemos das cadeias sobrelotadas, do eterno movimento dos sem-terra, dos abusos da polícia, da corrupção dos coroneis, dos vários podres poderes dessa América Latina de que fala o Caetano.
Sabemos do analfabetismo funcional, dos ordenados de miséria (dos professores, p ex..), e doa colégios supra-sumo dos filhos privilegiados.
Sabemos que a cultura chega a uma franja metropolitana, que a resistência unida, consciente, informada, é esporádica ou nula.
E da ignorância dessa imensidão de povo, desse Brasil profundo onde ainda se praticam, desconhecidas, inatacadas formas de escravatura funcional..
Samemos isso tudo e fechamos os olhos, deslumbrados pelo folclore,o carnaval, as paisagens de tirar o fôlego..

Sei que eu não quereria ser pobre no Brasil, não! Teria, talvez, seguido o rasto dos milhares que aqui vivem agora, país tão 'pequeno' de tudo, e no entanto tão cheio de deslumbramentos e de promessas. Nada que se estranhe para quem ganha aqui, numa semana, muitas vezes mais do que num mês, nesse seu Brasil: terra-madrasta para quase todos.

A solução não sei qual seja, mas concordo que tem de partir de dentro, e de todos.. é que não há portas para o olhar, e alguma semente de vergonha, de lucidez - pelo imenso excesso mal repartido - deve haver plantada por lá..
Cada um por todos, como diz Clarice Zeitel
- sem desculpas nem detenças.

teodoro disse...

al, estamos a seguir um caminho que nos leva no sentido das discrepâncias, justiça parcial, desamparo, iliteracia, etc, daquele hemisfério. E já não é tão por baixo do pano.
As semelhanças e os pontos de contacto são cada vez mais, ficaria feliz com isso se fosse no sentido da luz para ambos.
De lá nos chegam cada vez mais vozes críticas, é uma novidade e uma esperança, por cá vai-se tornando cada vez mais insuportável a resignação.
Enquanto dali reparas em luzes que se acendem, aqui reparas em apagões e silêncios ensurdecedores, pode não ser irreversível mas é frustre de ambições colectivas.