Para onde corre esta corça escrita pela mata escrita?
Beber da água escrita
que reflectirá o seu focinho como o papel químico?
Porque levanta a cabeça, ouvirá algo?
Sobre as quatro patas pela realidade concedidas,
debaixo dos meus dedos, apura o ouvido.
A palavra silêncio vai farfalhando no papel
e afastando
os galhos pela palavra "bosque" suscitados.
Por cima da folha branca, agacham-se para saltar
letras que se podem dispor mal,
frases que acuam,
das quais não escapa.
Numa gota de tinta há vários
caçadores de olhar franzido
prestes a correr caneta abaixo,
cercar a corça e fazer pontaria.
Não sabem que estão fora da vida real,
que neste preto no branco há outras leis.
Um pestanejar dura tanto quanto eu queira,
posso seccioná-lo em pequenas eternidades
cheias de balas imobilizadas no ar.
Se eu assim dispuser, nada te acontecerá.
Nem uma folha cairá sem a minha vontade,
Nem um cisco se vergará sob o casco de um ponto final.
Alegria da escrita.
Oportunidade de eternização.
Vingança da mão mortal.
Wislawa Szymborska (Kórnik, 2 de Julho de 1923)
Obrigado, Sílvia, beijos meus
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